segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A doce (e letal) Natália

Aurélio Miguel recebendo a medalha de ouro nas Olimpíadas de Seul, em 1988, a paranaense Natália Falavigna tinha apenas 4 anos. Diz ter ficado encantada com a imagem a que assistia na televisão e pensado: "Ainda ganho uma dessas". Anos depois, voltando da escola, perguntou à mãe: "Será que dá trabalho ser famosa como a Hortência do basquete?". Começava ali a paixão da menina pelo esporte - e, principalmente, por vitórias. Na infância, tentou natação, tênis, handebol, vôlei e basquete. Era boa, mas não o suficiente. Só encontrou o caminho para o pódio aos 14 anos, ao acompanhar uma amiga na aula de tae kwon do, em Londrina. Gostou. "A disciplina, os chutes e a plasticidade da luta me chamaram a atenção", diz. Na terceira aula experimental, o treinador Clóvis Aires disse a Natália que ela seria campeã mundial júnior em dois anos. Em 2000, exatos dois anos depois, ela venceu o mundial de sua categoria na Irlanda.
A lutadora de tae kwon do Natália Falavigna é uma das promessas do Pan-Americano do Rio de Janeiro, em 2007. Aos 22 anos, ela coleciona vitórias pelo mundo. Sua última medalha de ouro foi em maio, no Campeonato Mundial Universitário, na Espanha. Desde os 16 anos, foram 13 pódios em 16 campeonatos internacionais. O mais importante foi o Mundial de abril de 2005, também na Espanha, quando ela derrubou a maior rival na categoria até 72 quilos, a inglesa Sarah Stevenson. "Natália tem 80% de chance de ser campeã dos jogos", afirma Marcelino Barros, vice-presidente técnico da Confederação Brasileira de Tae Kwon Do. "No país, não existem mais adversárias para ela."
No Pan, ela precisa ficar atenta às atletas da Venezuela, que têm tradição no esporte. Cuba, México, Estados Unidos e Canadá também têm competidoras perigosas. Para vencê-las, Natália conta com uma calorosa torcida: quase um terço dos 350 mil praticantes da arte marcial no Brasil são mulheres. Mas, no tatame, o trunfo da brasileira é o controle emocional. Natália mantém a concentração mesmo quando está perdendo. "Consigo ser centrada. É difícil me desestabilizar durante a luta", afirma. "Mesmo perdendo, ela tem um controle psicológico excepcional", diz Barros.
Em geral, os atletas iniciam no tae kwon do por volta dos 7 anos. Como só botou o pé no tatame aos 14, Natália tenta compensar com determinação. "Nunca acho que está bom", diz. "Não comecei cedo. Tenho de correr atrás do prejuízo." O técnico Fernando Madureira, que a acompanha desde agosto do ano passado, afirma que nos treinos ela rende mais que os homens. "Ela gosta de saber o que está fazendo e qual será o resultado", afirma. "Se mandar comer pedra porque melhora o rendimento, ela não pensa duas vezes."
Nos preparativos para o Pan, Natália aprimora a força física com musculação e circuitos. O objetivo é ganhar explosão e agilidade. "Estamos trabalhando uma variedade maior de golpes para surpreender", diz Barros. "Antes, numa giratória de ataque com a perna esquerda, por exemplo, ela não tinha muita força. Agora tem."
Há três anos, a grande promessa brasileira do tae kwon do quase desistiu. "Não tinha retorno financeiro. Muitas viagens foram meus pais que bancaram", diz. "Comecei a me perguntar se poderia viver do tae kwon do." Em 2001, a lei Agnelo/Piva determinou o repasse de 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais para o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). As confederações passaram a receber verbas, e os atletas uma - pequena - ajuda de custo. Uma atleta de elite, como Natália, treina cinco horas por dia, seis vezes por semana, e ganha em torno de R$ 1.300. Pouco para quem está no topo da carreira, mas o suficiente para mantê-la no esporte. Por sorte, Natália conta com um patrocinador. Também ganha um salário para representar São Caetano do Sul, em São Paulo, nos Jogos Abertos do Interior.
De dia, Natália derruba atletas no tatame. À noite, cursa o segundo ano da faculdade de Educação Física da Universidade do Norte do Paraná (Unopar), onde tem bolsa-atleta. Tempo para namorar, nenhum. Bem-humorada, ela diz que seu 1,79 metro, os músculos e as medalhas de tae kwon do impõem certo temor nos potenciais pretendentes. "Estou focada no lado profissional e bem sozinha", diz. "Mas quero encontrar alguém bacana."
Na casa em que mora com os pais e um dos irmãos, em Londrina, o tamanho não intimida. A temível Natália do tatame se transforma em Natynha. "Ela sempre foi muito amorosa e preocupada com a família", afirma a mãe da atleta, a odontopediatra Ana Maria Falavigna. Ela devolve o carinho. "Lá em casa todos gostam de esporte. Sempre tive o apoio e a torcida de meus pais e irmãos."
Tímida, só com estranhos. Entre os amigos é bem animada. "Ela nunca gostou de ficar parada e sempre arrastava todo mundo para nadar ou jogar alguma coisa no clube nos fins de semana", diz a amiga Aline Takaki, estudante de Jornalismo. Natália diz preferir o cinema às baladas. Adorou o último X-Men. Vaidosa, não sai de casa sem bijuterias. Mas bem discretas. Disciplinada, diz que só perde a linha por um suculento motivo: não resiste a um churrasco.
Natália afirma freqüentar a igreja evangélica todo domingo. Antes de entrar no tatame para o combate, gosta de ouvir música gospel. "Eu me sinto perto de Deus quando luto. Acredito que minha vida é um projeto dele", diz. O campeão olímpico Aurélio Miguel, com quem tudo começou, de ídolo virou fã. Sempre que ela consegue mais uma vitória, o ex-judoca lhe envia um telegrama de parabéns.
Matéria feita por Suzane Frutuoso para a revista "ÉPOCA"

Um comentário:

Unknown disse...

eu tambem sou muito fã de natalia,meu maior sonho é um dia ser uma grande amiga dela,em quanto esse dia não chega me ofereço para ser uma das mediadoras do blog,meu email:nathalydecarvalhoshaolin@gmail.com
beijos
nathaly de carvalho